Quando a exaustão se torna invisível: a minha experiência com o Burnout Parental

Quando a exaustão se torna invisível: a minha experiência com o Burnout Parental

Quanto das nossas vidas passamos em piloto automático?

Sem nos darmos conta do que sentimos, do que queremos, do que realmente fazemos durante o nosso dia?

2014 foi um ano desafiante muito desafiante para mim, mas, até há pouco tempo, não fazia ideia do verdadeiro impacto que teve em mim.

A consulta era para o meu filho. Mas fui eu que, inesperadamente, saí com um diagnóstico de depressão.

Depressão?! Como assim?! Não era possível… Se olhasse à minha volta, via tantas pessoas que pareciam muito mais deprimidas do que eu. Como poderia eu estar com depressão?

Nos dias seguintes, a minha mente não parava de reavaliar aquele diagnóstico. Não fazia sentido. Eu já tinha tido depressão antes e sabia como era:

  • Na altura, mal conseguia fazer o que quer que fosse.
  • Passava os dias deitada, sem conseguir sair da cama.
  • Arrastava-me para o trabalho.
  • Não conseguia dormir à noite.

Agora, a minha rotina era completamente diferente. Eu estava funcional.

  • Cansada? Sim.
  • Com pouca energia? Sim.
  • Com vontade de passar o dia deitada? Sim.

Mas continuava a fazer o que era esperado… mas será porque tinha energia ou porque agora não podia dar-me ao luxo de parar? Já não morava sozinha e tinha três crianças que dependiam de mim. Mesmo nos dias em que só queria ficar deitada, essa não era uma opção.

Ainda assim, não conseguia acreditar no diagnóstico.

Então, procurei uma segunda opinião:

– “Depressão, Burnout Parental e risco de esgotamento.

Woah.

Precisei de parar, respirar fundo e perceber o efeito daquelas palavras em mim.

Mas foi a expressão “Burnout Parental” que mais me abalou.

Como assim, Burnout Parental?!

Como poderia eu, uma educadora parental, estar com Burnout Parental?

Como poderia eu, que acompanho e aconselho outros pais, estar a sofrer desta incapacidade de me conectar com os meus filhos?

Foi devastador.

Foi vergonhoso para mim aceitar que não estava a conseguir lidar com as demandas da maternidade da melhor forma.

Senti-me culpada. Uma impostora. Uma fraude.

Mas, no fundo, sabia que era verdade.

Quando parei para me observar e  me permiti sentir, percebi que não era só cansaço. Era um esgotamento total

Sentia-me vazia, como se a minha mente estivesse permanentemente inundada por ventos ciclónicos, impedindo-me de manter um pensamento coerente:

  • Esquecia-me do que ia dizer a meio das frases.
  • Chorava. Muito. Por tudo e por nada.
  • Irritava-me com as crianças muito mais do que queria admitir. Não tinha paciência para nada
  • Tudo parecia urgente, mas por muito que corresse, nunca era suficiente.
  • Sentia-me incompetente por não conseguir “dar conta do recado”.
  • Sentia-me culpada pelos pensamentos que me inundavam a mente e pelo que não era capaz de fazer.
Título-60

E, mesmo assim, ainda não me parecia justo. Como assim eu estava deprimida e com burn-out?

Há pessoas a viver em zonas de guerra. Pessoas que perderam pais, filhos, companheiros. Pessoas com doenças graves. Essas sim, têm razões para estar deprimidas, não eu! Eu tinha uma vida de que não me podia queixar. Não me faltava nada de importante… Talvez eu só precisasse de descansar melhor, de ter uma boa noite de sono, afinal há anos que não dormia uma noite inteira… precisava de melhorar a alimentação, de começar a fazer exercício e ter uma rotina mais organizada…

Mas talvez não fosse só isso.

Quando a exigência se torna insustentável

Eu não me reconhecia nos meus próprios comportamentos.

A exaustão não era só física. Era mental, emocional, existencial.

E, no entanto, a minha voz interior era impiedosa:

“Como podes sentir-te assim?”

“Trabalhas em casa, geres o teu tempo! Há mães que trabalham fora o dia inteiro e ainda fazem tudo o que tu fazes!”

É impressionante como conseguimos ser tão duras connosco próprias.

E a verdade é que o Burnout Parental não acontece porque não amamos os nossos filhos.

Acontece porque passamos demasiado tempo a tentar ser tudo para todos, sem espaço para nós.

Porque crescemos a acreditar que descansar é um luxo e não uma necessidade.

Porque fomos ensinadas a colocar sempre as necessidades dos outros à frente das nossas.

E porque ninguém nos disse que também precisamos de colo.

E se parássemos um momento?

Título-61

Se te sentes assim, quero deixar-te um convite: dá-te permissão para parar.

O que sentes é real.

Não, não estás a ser fraca.

Não, não é “só cansaço”.

E sim, mereces dar um passo atrás e cuidar de ti.

Talvez não possas tirar férias agora.

Talvez não possas mudar tudo de um dia para o outro.

Mas podes dar o primeiro passo.

Podes pedir ajuda.

Podes tirar cinco minutos para respirar.

Podes dar-te permissão para não ser perfeita.

Porque ninguém consegue cuidar de uma família se estiver a desmoronar por dentro.

E tu mereces mais do que sobreviver aos dias.

Mereces vivê-los.

Estamos juntas 🩷

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