O que fiz depois do diagnóstico (e o que realmente me ajudou!)

O que fiz depois do diagnóstico (e o que realmente me ajudou!)

E se um dia te dissessem que tens depressão e burnout parental, mas tu nem sequer te sentes “doente”?

Foi exatamente assim que me senti.

O diagnóstico estava ali, à minha frente. Depressão. Burnout Parental. Risco de esgotamento.

Nos dias seguintes, não pensei noutra coisa. Passei semanas numa espécie de introspeção forçada, a tentar perceber como tinha chegado ali. Autoavaliação atrás de autoavaliação. Observei os meus comportamentos, os meus sentimentos, os meus pensamentos. No fundo, sabia que provavelmente o diagnóstico estava certo

Mas concordar não é o mesmo que aceitar, pois não?

“Concordar é reconhecer intelectualmente que algo pode ser verdade. Aceitar é permitir que essa verdade nos toque, nos transforme e nos leve a agir.”

E eu não queria aceitar.

Olhava para mim e não via “motivos suficientes” para estar assim. Não tinha sofrido uma perda devastadora. Não tinha uma doença grave. Não vivia em condições extremas.

Então, por que razão me sentia tão desgastada?

Será que eu realmente não tinha motivos? Ou será que não os conseguia aceitar, porque, no fundo, achava que deveria dar conta de tudo?

Os sentimentos começaram a sobrepor-se à racionalização

Mas, por mais que eu tentasse racionalizar, os sentimentos estavam lá.

E ignorá-los não os fazia desaparecer.

Houve momentos em que não consegui mais fingir que estava tudo bem.

  • Quando me esquecia completamente de algo importante e nem conseguia lembrar-me da conversa que estava a ter no momento
  • Quando me apanhava a chorar sozinha na cozinha, sem conseguir perceber exatamente porquê.
  • Quando percebia que a minha paciência com os meus filhos tinha desaparecido por completo.
  • Quando tudo me parecia uma montanha impossível de escalar, mesmo as tarefas mais simples.
  • O barulho dos meus filhos a brincar, a rir, que antes eram um dos meus sons favoritos, incomodava-me
  • Os gritos deles eram como agulhas que me perfuravam a pele.
Título-63

E houve um momento em que tive de ser honesta comigo mesma:

“Isto não é normal. Isto não é só cansaço. Algo precisa de mudar.”

Foi só quando parei de me comparar e de tentar justificar o que sentia, que comecei a perceber que a dor emocional não precisa de uma “grande tragédia” para ser válida.

O momento de viragem

Independentemente de validar ou não os meus motivos, a verdade é que eu estava nesta situação.

O meu estado, o meu comportamento não estavam a afetar apenas a mim, mas a toda a minha família.

E os mais impactados eram, sem dúvida, as crianças.

Os nossos filhos absorvem o nosso estado emocional, refletem o nosso humor e comportamento.

Nós precisamos de estar bem, para que eles também estejam bem.

Naquele momento, percebi que não podia continuar a ignorar o que estava a acontecer.

Eu precisava urgentemente de mudar.

O primeiro passo: Um dia só para mim

Título-64

Aceitar um diagnóstico como este não significa que, de um dia para o outro, tudo mude e a recuperação aconteça magicamente. Não há um plano perfeito. Não há uma solução imediata.

Mas havia algo que comecei a perceber: eu precisava de começar por algum lado.

Eu queria encontrar uma solução rápida, um método estruturado para me “consertar”, mas a verdade é que a recuperação não funciona assim. Não era sobre fazer tudo certo – era sobre fazer alguma coisa. Então comecei por tirar um dia para organizar os meus pensamentos.

O meu marido ficou com as crianças e eu saí de casa. Fui para um lugar tranquilo, onde pudesse simplesmente parar e pensar.

Escrever sempre foi uma espécie de terapia para mim. Nem sempre o faço regularmente, mas desde que me lembro que gosto de escrever para desabafar. Tirar os pensamentos da cabeça e passá-los para o papel.

 

Então, comecei a escrever:

  1. Como me sentia. Física e emocionalmente.
  2. O que me trouxe até aqui. As mudanças na minha vida, as expectativas que tive, a realidade que vivi.
  3. Onde quero chegar? Quais os meus sonhos e objetivos?
  4. Quem eu preciso de me tornar para chegar onde desejo? Que tipo de pessoa preciso de ser? Que comportamentos preciso de ter?
  5. Um plano para implementar… 

Claro que ao longo de todo este processo, tinha uma voz crítica demasiado ativa dentro da minha cabeça, que me dizia coisas como: “Não vale a pena sonhar, dificilmente vais conseguir”. Mas tentei ignorá-la e continuar.

Pequenas mudanças que realmente fizeram diferença

O primeiro plano que escrevi parecia impossível de pôr em prática. Eram demasiadas mudanças, demasiada exigência, para um momento em que não tinha energia para isso. Porque normalmente no início até conseguimos estar entusiasmados e com força de vontade para começar algo novo, mas e quando a força de vontade se vai? Então decidi ser menos exigente, começar pelas coisas possíveis naquele momento. Coisas, aparentemente insignificantes, mas que começaram a fazer a diferença:

1. Falei sobre o que sentia

  • Falei com o meu marido, sobre como me sentia, e o que precisava naquele momento;
  • Disse-lhe o que não estava a funcionar para mim, quais eram as mudanças que precisava na nossa rotina e pedi-lhe ajuda.

2. Criei uma rotina ainda longe da que quero fazer e que considero ideal, mas a que eu sentia possível naquele momento

3. Criei micro momentos de pausa, mesmo no caos:

  • Em vez de esperar por “ter tempo”, comecei a criar pequenos momentos ao longo do dia:
  • Meditar por apenas 5 minutos ao acordar.
  • Fazer pausas para ouvir uma música, um podcast, ou simplesmente ficar em silêncio.
  • Ler por prazer, não apenas livros didáticos.

4. Sou mais gentil comigo mesma
        O meu diálogo interno era (é) implacável.

     A minha cabeça está constantemente a dizer-me que não estou a fazer o suficiente, que devia dar mais, que outras mães lidam melhor.

       Então comecei a fazer algo diferente. Quando me apanhava a pensar “Devias estar a fazer mais”, perguntava-me: “E se uma amiga me dissesse isto? O que eu lhe responderia?”

      A resposta nunca era: “Sim, és uma fraca, devias estar a esforçar-te mais.” Pelo contrário, eu diria algo como: “Estás a fazer o melhor que podes. Já fizeste tanto hoje. Está tudo bem em descansar.”

       E, aos poucos, comecei a aplicar esta mesma compaixão a mim mesma.

Título-65

Porque ser uma boa mãe não significa fazer tudo.

Porque ser uma boa mãe não significa estar sempre disponível para todos.

Porque ser uma boa mãe também significa ensinar aos filhos que cuidar de si é importante.

A mudança não acontece de um dia para o outro

Título-66

Tem sido um processo longo, e muitas vezes ainda me apanho a cair nesta mesma armadilha mental. Mas há também já outras vezes em que dou por mim a questionar esta voz.

Nós queremos sentir-nos melhor imediatamente.

Queremos a solução mágica que vai transformar tudo.

Mas isso dificilmente acontece. Não há uma coisa certa que vai concertar tudo, há um caminho, mudanças que precisamos de implementar. E aceitar que a mudança não é linear. Há dias em que nos sentimos melhor e outros em que parece que estamos de volta à estaca zero!

Mas isso faz parte do processo. Não se trata de nunca mais ter dias difíceis, trata-se de aprender a navegar por eles de uma forma mais leve.

E se há algo que precisamos de ter em conta é que: cada pequena mudança conta. Nós temos tendência a focarmo-nos nas grande conquistas, nas grandes voltas que a vida dá. Mas a verdadeira magia acontece quando conseguimos apreciar cada pequena mudança, cada pequeno passo que já demos, cada pequena conquista.

E se tu também sentes que precisas de implementar mudanças na tua vida, começa por algo pequeno.

✨ Algo que seja possível!

✨ Algo que sejas capaz!

✨ Algo simples!

✨ Algo que possas fazer já hoje!

Se pudesses escolher uma pequena mudança para começares hoje, qual seria?

Porque, no final, não é sobre fazer tudo certo – é sobre não continuar a ignorar o que precisas.

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *